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A cada 24h, 17 mulheres denunciam que sofreram violência no Piauí

De 01 de janeiro a 28 de fevereiro, foram lavrados 1.051 boletins de ocorrência por violência contra a mulher no Estado. Aumento é de 13,37% em relação a 2020.

25/03/2021 11:28

Durante este período mais crítico da pandemia de covid-19, em que as pessoas se encontram confinadas em casa, um dos aspectos que mais preocupa as autoridades diz respeito à convivência forçada entre as vítimas de agressões e seus agressores. Os dados revelados pela Secretaria de Segurança Pública do Piauí dão um vislumbre da situação em que encontra aquelas mulheres em estado de vulnerabilidade.

De 01 de janeiro a 28 de fevereiro de 2021, 1.051 mulheres denunciaram que sofreram algum tipo de violência junto às Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher (DEAM). Em média, são 17 Boletins de Ocorrência lavrados por dia. O aumento é de 13,37% em relação aos 927 registros lavrados em 2020.

Os números são ainda preocupantes quando se observa o mesmo período de 2019: em janeiro daquele ano, foram 478 registros de violência contra a mulher, contra 422 em 2020 e agora, 572 em 2021.


Foto: Jailson Soares/O Dia

A maior quantidade de casos se concentra em Teresina. De acordo com o levantamento da SSP, os bairros onde mais se registra ocorrências de violência contra a mulher na capital são Itararé e Parque Ideal. Estes dois possuem, cada qual, mais de 34 registros de ocorrências nesse sentido.

Em seguida, aparecem os bairros Santa Maria, o Parque Brasil, Mocambinho, Cabral, Centro, Piçarra, Santo Antônio e Angelim. Estas são áreas com 13 a 24 registros de violência contra a mulher formalmente lavrados. 

Em contrapartida, há 15 bairros na capital que não registraram nenhum caso de violência contra a mulher em 2021. São eles: Chapadinha, Tabajaras, Socopo, Cidade Jardim, Morros, Vale Quem Tem, Novo Uruguai, Embrapa, Buenos Aires, Zoobotânico, Monte Alegre, Cabral, Noivos, Vermelha, Macaúba, Pio XII, Tabuleta, Santa Luzia, Catarina, Bela Vista, Distrito Industrial, Parque Jacinta, Verde Cap, Bom Princípio e Flor do Campo.

Já com relação ao feminicídio, no Piauí houve três registros deste tipo de crime nos dois primeiros meses de 2021. Para feito de comparação, ao longo de todo 2020, o estado teve 27 casos de feminicídio contabilizados. Uma média de pelo menos dois a cada mês.

Tecnologia é aliada e ajuda a explicar aumento nos registros

Com a pandemia em seu ápice e o isolamento social sendo considerado uma das formas mais eficientes de se barra a disseminação do coronavírus, as forças de segurança tem apostado no incremento de suas ferramentas tecnológicas para garantir a integridade física e o direito à vida de quem está sendo obrigado a conviver com potenciais agressores dentro de casa.

No primeiro bimestre de 2021, a Secretaria de Segurança Pública do Estado recebeu 77 denúncias ou acionamento de casos de violência contra a mulher através do aplicativo Salve Maria. O serviço conta com um botão do pânico, que pode ser acionado a qualquer hora em qualquer lugar. O chamado de socorro é recebido pela central de monitoramento, que aciona a força policial e a encaminha para checagem da ocorrência no local onde ela está em andamento.

Outro meio que se tornou um aliado no monitoramento dos casos de agressões contra mulheres é a Delegacia Virtual, que pode ser acessada pelo site da Polícia Civil do Piauí. Por lá, a vítima pode registrar seu Boletim de Ocorrência, que será analisado pelos agentes e transformado, seu relato, em um inquérito policial.

"No início da pandemia, lá no ano passado, houve uma ampliação dos casos que podiam ser registrados oficialmente na plataforma, o que contemplou outras modalidades de crime. Tinha sido disponibilizado inclusive a medida protetiva ligada à Patrulha Maria da Penha. A mulher era inserida no programa e recebia visitas das nossas equipes para checar se o que foi determinado estava sendo cumprido pelo agressor. Então você tem todo um sistema em que a mulher não precisa se deslocar de casa para ser ouvida", explica a delegada Anamelka Cadena.


Delegada Anamelka Cadena - Foto: Assis Fernandes/O Dia

O Salve Maria, diz ela, também foi outra plataforma que teve seu uso ampliado durante este período de pandemia. Por se tratar de um protocolo eletrônico sigiloso, o uso do aplicativo subiu na casa dos 30% em um primeiro momento do confinamento social, e chegou a registrar acréscimos de até 60% em seu uso em períodos mais críticos.

Para a delegada Anamelka, os números crescentes revelam não só a facilidade no acesso aos meios de denúncias, mas principalmente as consequências naturais do confinamento forçado pela crise sanitária do coronavírus. "a proximidade de pessoas e familiares, entre os quais já existiam problemas, gera essa tendência da violência se intensificar e evoluir para o crime. Nacionalmente nós tivemos um aumento dos casos de feminicídio, então a gente consegue perceber bem essa realidade", finaliza a delegada.

Os dados, segundo ela, são essenciais para mostrar o real cenário, mas tambbém para nortear o desenvolvimento de políticas que podem ser desenvolvidas para que se possa pensar em meios e canais pelos quais todas as mulheres sejam alcançadas e protegidas.

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