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Aceitar-se faz bem: mulheres falam sobre nova vida e autoestima após tratamentos invasivos

Neste dia 8 é necessário lembrar da importância da autoaceitação de cada corpo e cada mulher.

08/03/2023 07:09

O corpo feminino é história. Nele, estão contidas todas as vivências, experiências e afetações que marcam o que é ser mulher. Mais do que as características físicas que distinguem cada uma de nós, as nossas cicatrizes também dizem, e muito, sobre a mulher que habita cada corpo. Para aquelas que passaram por tratamentos invasivos, que resultaram na perda ou que marcaram símbolos importantes para a representação da feminilidade, como a perda de cabelo, perda do seio ou cicatrizes aparentes, o processo de autoaceitação e empoderamento pode ser um dos caminhos para a cura. 

É o caso da professora de dança do ventre Lorena Ariel, de 23 anos. Em 2020, Lorena sofreu um AVC e um infarto durante cirurgia para correção de um sopro no coração. Após o procedimento, a professora e bailarina sofreu uma paralisia no lado esquerdo do corpo e, foi através da dança, que conseguiu recuperar os movimentos e a sua autoestima. 

“Quando eu acordei na UTI e vi que os movimentos do meu corpo não estavam como eram antes, quando vi que meu coração estava batendo em outro ritmo, eu senti que havia uma outra pessoa ali. Uma pessoa que não ia conseguir ser forte o tempo todo e precisei me aceitar pra conseguir viver, porque uma jovem de 20 anos com a maioria do corpo paralisado, sem conseguir falar direito, não ia ter uma vida tão legal assim. Eu voltei pra casa e comecei a colocar música na TV, me olhei, comecei a dançar novamente e fui tentando me reensinar tudo”, lembra. 


Lorena Ariel depois de um AVC e enfarto: uma nova mulher - Foto: Arquivo Pessoal

Além das limitações físicas, a cirurgia também afetou a sua aparência. A dançarina perdeu peso e cabelo durante a sua recuperação e, o fato de ter passado por um procedimento cirúrgico de peito aberto, a deixou com uma cicatriz no tórax. A marca é uma lembrança constante deste capítulo da sua história de vida e foi um dos alicerces para o seu processo de autoaceitação. Hoje, Lorena avalia o quanto esse processo foi essencial para que pudesse se reencontrar. 

“Tive várias perdas naquele momento: a estética, a performance e a Lorena, porque até então eu era uma pessoa que estava construindo a minha identidade como uma bailarina de alta performance. Eu precisei me reconhecer novamente e comecei a ver as minhas vulnerabilidades. Pra mim, [a cicatriz] é como uma tatuagem, que você faz quando tem um significado. Essa é a história da minha vida. É a cicatriz que me faz ver todos os dias o quão forte eu sou e o que sou capaz de fazer. Sempre que vou dançar, se eu puder jogar todo brilho do mundo em cima da cicatriz para que as pessoas vejam, eu faço”, relata a dançarina. 

Desistir nunca! 

Assim como a professora Lorena, foi em um dos momentos mais difíceis da sua vida que a servidora pública e artesã Cybele Nirlem, de 54 anos, encontrou forças para continuar a viver. Diagnosticada com câncer de mama apenas um ano após perder o amor da sua vida, Cybele lembra que nem mesmo a perda de cabelos e as mudanças na sua aparência diante um problema sério de saúde a fizeram desistir de encarar a vida com otimismo e leveza. 

“O tratamento contra o câncer começa pela forma como a gente o encara. Sempre fui otimista, não que eu não tivesse medo ou não tenha medo, mas tentei sempre pensar que tudo ia dar certo e vai dar certo. Eu vi por esse prisma, porque sempre foi minha intenção fazer com que quem estivesse ao meu lado, passando pelo que eu estava passando na época, pudesse sentir como eu me sentia. Eu peguei o meu diagnóstico como uma missão e não como um castigo”, enfatiza. 


"Depois do câncer passei a ser vaidosa", diz Cybele Nirlem - Imagem: Autorretrato/Cybele Nirlem

Cybele produz mosaicos e pinturas em tela e retomou a produção das obras durante o tratamento contra o câncer. A artesã rememora que uma das suas obras mais significativas é um autorretrato feito após perder o cabelo em decorrência da quimioterapia. A pintura é uma representação sua em uma noite de natal feliz, uma memória constante de que o câncer não é o fim e que, mesmo passando por um tratamento agressivo, a artesã conseguia ver beleza na vida. 

“Depois do câncer passei a ser vaidosa, coisa que eu não era. Eu colocava minha careca pra jogo tranquilamente, mas não gostava de sair por aí sem a sobrancelha. Eu andava maquiada, andava sorrindo e feliz. Não que eu não chorasse ou tivesse medo, mas tentava sempre estar positiva. Quando eu estava raspando a cabeça, foi como se tivesse indo embora tudo que era ruim, de peso, e ali estava nascendo uma nova pessoa, foi muito libertador. E esse autorretrato é a representação de um dia feliz ao lado dos meus amigos e da minha família”, afirma. 

Mulheres buscam autoestima através da dança 

Despertando a autoestima das mulheres através da dança há 3 anos, a professora Ana Caroline, artisticamente conhecida como Caah Fernandes, de 35 anos, trabalha a feminilidade e sensualidade de suas alunas. Ensinando especificamente as modalidades de Stiletto, Jazz Funk e Chair Dance, Caah Fernandes destaca que, em suas turmas, muitas mulheres têm problemas com sua autoimagem e buscam, por meio da dança, encontrarem a si mesmas. 


Caah Fernandes e sua turma de dança: autoestima em alta - Foto: Arquivo Pessoal

“Stiletto é uma modalidade de dança em cima do salto alto, já o Jazz Funk é um estilo de dança que integra jazz e dança urbana. No Chair Dance usamos a cadeira, que é uma dança muito feminina e sensual”, explica a professora. “Em minhas turmas temos mulheres que buscam perder peso, outras que querem aprender a dançar de salto e ser mais elegante”. 

A professora reforça que ensina às suas alunas a importância de reconhecerem seus corpos como belos independente de como são. "Trabalhamos a forma como elas se veem, independente dos corpos, que são diferentes uns dos outros. Fico feliz de ser a mediadora disso, pois vejo mulheres se descobrindo e se desenvolvendo”, destaca

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