O avanço da variante Ômicron mudou o cenário da pandemia no Piauí e acendeu o alerta para o aumento de casos e óbitos em crianças. Segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesapi), desde o início da crise pandêmica, pelo menos 20 mortes de crianças com idades entre 0 a 11 anos foram registradas. Deste número, três mortes de bebês ocorreram somente neste mês, sendo que a última vítima foi um recém-nascido de apenas três dias de vida, que veio a óbito no município de Júlio Borges, no extremo Sul do Estado, no último domingo (13).
O infectologista da Unimed, Dr. Eduardo Mendes, explica que, se no início da pandemia as crianças eram as menos afetadas pela covid-19, o alto poder de adaptação do vírus através das novas cepas preocupa os especialistas, já que as variantes, em especial a Ômicron, demonstram um poder de multiplicação capaz de elevar consideravelmente a taxa de transmissibilidade, infectando, inclusive, a população infantil.
Foto: Assis Fernandes/O Dia
“Existem teorias sobre a maturação do sistema imune que explicam que, como a maturação celular é diferente nas crianças, esse mecanismo de entrada e multiplicação viral estaria prejudicado. Todavia, com essas mutações, o vírus pode, sim, aprender mecanismos para infectar mais as crianças. Não há nada comprovado cientificamente que ateste o porquê das crianças antes serem mais protegidas e agora termos uma ocorrência maior de casos, mas imaginamos que tenha a ver com as mutações sofridas com a nova cepa”, avalia.
Por isso, a alta taxa de transmissibilidade da nova variante Ômicron incide diretamente no aumento de casos entre as crianças. Segundo ele, o avanço da nova cepa mais do que dobrou o número de casos nessa faixa etária, o que acaba por impactar diretamente na ocorrência de casos mais graves e, consequentemente, no número de óbitos.
"A cepa Ômicron aumenta a incidência de casos de covid em crianças", destaca o Dr. Eduardo Mendes.
“A cepa Ômicron, ao passo que tem um comportamento de síndrome gripal, aumenta a incidência de casos em crianças. Com o aumento do número de crianças doentes, acabamos também vendo um aumento de casos hospitalizados, e o reflexo disso são as crianças que podem ter complicações e vir a óbito. Contudo, não temos nenhuma evidência, até o momento, de mecanismos da cepa apontando para uma gravidade diretamente associada. Não consigo fazer uma relação de causa e efeito, por exemplo, dizer que morreram porque foi a cepa Ômicron”, destaca o infectologista.
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O infectologista revela o desafio em diferenciar a covid-19 de outros vírus respiratórios que são comuns na infância. Por terem sintomas associados, como nariz congestionado, coriza, tosse, dor de garganta, dor no corpo e febre, é necessário que os pais ou responsáveis procurem profissionais de saúde para fazer a avaliação e realizar o teste de antígeno.
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Sobre os cuidados para evitar o contágio, assim como para a população adulta, a vacinação e as orientações sobre o uso correto da máscara, higiene das mãos e o distanciamento social, são essenciais para evitar a disseminação do coronavírus entre as crianças. O médico chama a atenção, principalmente, nos cuidados dispensados aos menores de cinco anos que estão ainda mais suscetíveis ao vírus, por ainda não estão inseridos no Programa de Vacinação contra a Covid e não fazerem o uso de máscara.
“Os adultos ao redor dos menores de cinco anos devem estar vacinados e devem usar as medidas de prevenção com a máxima cautela e dedicação. Uso correto da máscara cobrindo nariz e boca, higiene das mãos sempre antes de tocar essa criança, sempre antes de tocar rosto e mucosas e o cuidado com a aglomeração. Esse alerta precisa ser de conscientização das famílias que tem o seu menor de cinco anos em casa, não cumprir essas medidas é apostar que o seu filho vulnerável pode ter a infecção pela nova cepa Ômicron”, alerta.
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Em relação aos maiores de cinco anos, além das medidas de higiene, a vacina continua sendo a maior aliada, já a ocorrência de casos graves e óbitos em pessoas com o esquema vacinal completo é substancialmente menor do que em não imunizados. O Dr. Eduardo Mendes explica ainda que a chance de um evento adverso provocado pela vacina da covid-19 é ainda mais raro do que de todas as vacinas já existentes no calendário de vacinação infantil.
"O maior benefício da vacina é a proteção contra a infecção grave", diz o infectologista.
“O maior benefício da vacina é a proteção contra a infecção grave. As vacinas foram produzidas com rapidez porque a nossa tecnologia hoje é diferente de 20 ou 30 anos atrás quando produzimos as outras vacinas. A cada momento em que a medicina avança em tecnologia, os tempos de resposta para produzir os testes, diagnósticos e remédio diminui. A todos que me perguntam, eu digo que já vacinei porque quero meus filhos seguros e protegidos”, completa.
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Atualmente, a vacina para crianças com idades entre 5 e 11 anos está disponível em todo o Piauí. Em Teresina, a vacinação de crianças está sendo realizada com dois tipos de vacina: a Coronavac e a Pfizer, em sua versão pediátrica. A vacina da Pfizer pode ser dada para todas as idades contempladas pela campanha e é feita em duas doses, com intervalo de oito semanas entre a primeira e segunda dose. Já a Coronavac é voltada para crianças de 6 a 11 anos, com exceção daquelas consideradas imunocomprometidas. Esse imunizante também é administrado em duas doses, com intervalo de 28 dias.