Nos primeiros meses da pandemia da Covid-19, em 2020, a
ocorrência de sintomas psiquiátricos como ansiedade, insônia e estresse,
aumentou na população, e, ao longo do ano, notou-se uma queda significativa
desses quadros. Porém, o mesmo não foi percebido com os transtornos mentais,
como a depressão, que manteve níveis elevados - de antes da pandemia - e afetou
cerca de 30% da população. Fatores como solidão, medo da morte, luto e
preocupações financeiras são alguns dos principais motivos para a depressão.
Foto: Assis Fernandes/O Dia
Segundo dados do DataSUS, nos últimos 20 anos, os suicídios no Brasil subiram de sete mil para 14 mil casos por ano, uma média de 38 mortes por dia. O número é maior do que as mortes ocasionadas por acidentes de motocicleta no mesmo período. Vemos um país que acumula uma multidão de pessoas adoecidas mentalmente, deprimidas, ansiosas, e que, infelizmente, tiram suas vidas.
Todos os anos a Campanha do Setembro Amarelo chama atenção para essa realidade que traz como lema em 2022 “A vida é a melhor escolha!”. O dia 10 de setembro é oficialmente marcado como o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. O suicídio tras grandes prejuízos à sociedade e registra, a cada ano, uma alta de casos. De acordo com a pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019, são registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo, sem considerar os casos subnotificados, o que estima-se chegar a 1 milhão de casos.
É comprovado que as doenças mentais têm relação direta com os casos de suicídio, sobretudo os que não foram diagnosticados ou tratadas corretamente. Assim, a maioria dos casos poderiam ter sido evitados se os pacientes tivessem acesso a tratamento psiquiátricos e informações de qualidade. Por isso é importante atuar ativamente na conscientização de que a vida é importante e como essa ajuda previne o suicídio.
Jovens são os mais afetados com transtornos mentais
Um estudo realizado com 5.061 participantes do Estudo Longitudinal da Saúde do Adulto (Elsa-Brasil) no Estado de São Paulo, mostra que as pessoas mais afetadas pelos transtornos são jovens, do sexo feminino e com menor nível educacional. Este público teve o sofrimento psíquico aumentado pelas dificuldades financeiras surgidas na pandemia e necessitam de maior atenção à saúde mental, em especial através de programas governamentais.
Foto: Pixabay
De acordo com o pesquisador Pedro Starzysnki Bacchi, do Instituto de Psiquiatria (IPq) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), no início da pandemia, muito se especulava sobre as consequências da primeira onda de infecções por covid-19.
“Para compreender os resultados, é importante deixar clara a diferença entre transtornos psiquiátricos e sintomas psiquiátricos. É normal sentir medo, insônia e ansiedade perante uma ameaça, ou sentir-se triste e mais desanimado após uma perda de um ente querido. No entanto, estes sentimentos, os sintomas, não configuram doença, os transtornos, e existe um longo processo até que se diga que a pessoa está doente”, disse.
Na esfera de saúde mental, foram avaliados, principalmente, transtornos depressivos e ansiosos que, somados, podem chegar a uma prevalência de até 30% na população, e por isso também recebem o nome de transtornos mentais comuns.
Dados sobre suicídio
Entre os jovens de 15 a 29 anos, o suicídio foi a quarta causa e morte depois de acidentes no trânsito, tuberculose e violência interpessoal. Trata-se de um fenômeno complexo, que pode afetar indivíduos de diferentes origens, sexos, culturas, classes sociais e idades.
As taxas variam entre países, regiões e entre homens e mulheres. No Brasil, 12,6% por cada 100 mil homens em comparação com 5,4% por cada 100 mil mulheres, morrem devido ao suicídio. As taxas entre os homens são geralmente mais altas em países de alta renda (16,6% por 100 mil). Para as mulheres, as taxas de suicídio mais altas são encontradas em países de baixa-média renda (7,1% por 100 mil).
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Mundialmente, a taxa de suicídio está diminuindo, com a taxa global diminuindo de 36%, diminuições variando de 17% na região do Mediterrâneo Oriental a 47% na região europeia e 49% no Pacífico Ocidental. Mas na Região das Américas, as taxas aumentaram 17% no mesmo período entre 2000 e 2019.
Embora alguns países tenham colocado a prevenção do suicídio no topo de suas agendas, muitos permanecem não comprometidos. Atualmente, apenas 38 países são conhecidos por terem uma estratégia nacional de prevenção do suicídio.
CVV - Centro de Valorização da Vida (CVV)
O Centro de Valorização da Vida (CVV) é uma das entidades a realizar apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email e chat 24 horas todos os dias. Segundo o voluntário do CVV, Eyder Mendes, o centro realiza, em média, três milhões de atendimentos por ano em todo o Brasil, seja através do número 188 ou pelo chat através do site www.cvv.org.br.
“Esse telefone é gratuito para todas as cidades do país. Mesmo que a pessoa não tenha crédito para ligar, a ligação é completada. A pessoa liga e o tempo disponível é aquele em que ela quiser conversar. Não existe limite de tempo. A única coisa que a gente não faz é dar aconselhamentos, é um diálogo com apoio emocional, onde a gente estimula a pessoa a buscar os caminhos para que ela possa se libertar emocionalmente. Dentro da nossa filosofia de trabalho, todo mundo tem dentro de si a possibilidade de conseguir essas respostas por si mesmos”, explica Eyder.
Além do CVV, outras entidades também disponibilizam atendimento de apoio emocional e psicossocial em Teresina, como o Centro Débora Mesquita, os CAPS e o centro Provida, este último disponibiliza atendimento imediato para as pessoas que tentaram se suicidar e estão precisando de apoio psiquiátrico emergencial. A divulgação dessas entidades de apoio é, inclusive, um dos objetivos da campanha Setembro Amarelo.
“É um mês para chamar atenção das pessoas para a prevenção ao suicídio e dizer que essa prevenção é possível. Para que, essa pessoa que precisa de apoio possa perceber, através dessas discussões, que é possível melhorar o seu estado emocional ao desabafar e está comprovado que isso ajuda emocionalmente a se recuperar. Também para mostrar que existe uma rede de apoio muito grande e, inclusive, gratuita. É preciso também desmistificar que a busca por apoio médico e profissional é uma busca pela própria vida, ou seja, a partir do momento em que você busca o apoio, você favorece a vida e recupera a sua vontade de viver”, afirma Eyder Mendes.
O voluntário do CVV destaca ainda a importância do apoio familiar para que a pessoa que precisa de apoio emocional possa buscar ajuda. Uma vez que os familiares são, muitas vezes, as pessoas mais próximas de quem está deprimido ou com ideações suicidas.
“O apoio da família é primordial, mas, infelizmente, muita gente não encontra esse apoio. Digo isso com base nos depoimentos das pessoas que nos ligam, elas encontram geralmente esse apoio em pessoas que não são da família, porque a família geralmente critica e julga. As pessoas que ligam para o CVV, por exemplo. Imagine ligar para alguém que você nunca viu, as vezes é porque não encontrou dentro da família, alguém que pudesse confiar”, afirma.